Acabo de ver na TV mais uma notícia, das tantas que vi hoje, sobre o aquecimento global. Os mensageiros vão desde a sorridente Ana Maria Braga até o sisudo Arnaldo Jabor. Viva! Estamos salvos! O alcance interplanetário de nossas telecomunicações sensacionalistas haverá de alertar o Deus do clima que virá nos socorrer. Será o fim da termoagonia no mundo. Assim, Nova Iorque não mais será inundada devido ao derretimento daquele grande e distante pedaço de gelo, Wall Street continuará a reger as bolsas mundiais, Bagdá continuará fornecendo petróleo aos montes e os habitantes do buraco negro, alheios a tudo isso, chamado África, continuarão na sua luta pela próxima refeição ou algo que possa ser chamado de comestível. Pronto. Tudo lindo aos olhos de Washington. God bless America!
Se nos fosse possível uma solução assim ao problema climático, dado o caos atual, seria formidável. Dentro das opções possíveis, essa seria a menos dolorosa e mais fantasiosa, com certeza. A grande questão é: E daí em diante? Passaríamos a nos preocupar com as pequenas coisas ou continuaríamos a buscar nosso maço de cigarro no bar da esquina de carro? Ou ainda, e mais importante, qual seria a postura dos futuros governantes do planeta Terra?
Acredito na possível revisão, pela maioria da população mundial, das nossas relações com o meio ambiente. Entretanto, a se julgar por agora, o sistema movido pelo capital definitivamente não é a melhor resposta à segunda questão. Há quem diga que possa existir um capitalismo sustentável, mas não acredito nessa possibilidade. Como isso seria? Os milhões de supérfluos criados por esse regime viriam com sistema GPS integrado para que, assim que perdessem suas funções, os guiassem ao centro de reciclagem mais próximo? Creio que não e, se possível, não seria a solução. Não há como se falar em sustentabilidade sem atingir a todos. O capitalismo tem, por natureza, um caráter excludente, com os interesses voltados à pequena parte da população. Se você está lendo isso agora, sinta-se honrado por estar dentro da pequena parcela da povo com acesso a internet e, consequentemente, a informação.
Não tenho pretensão de elaborar um novo sistema produtivo, muito menos fazer propaganda do sistema socialista que teve, na corrupta União Soviética, um fim melancólico e ainda resiste, por enquanto, em Cuba, na figura do corajoso Fidel. Entretanto, devemos começar hoje a pensar como será o nosso novo "american way of life". O que temos que acatar e o que precisamos, e estamos dispostos, a deixar de lado para que a próxima geração (assim, no singular) tenha possibilidade de conhecer o condenado mundo em que seus pais viveram. Não se trata de voltar ao neolítico para conseguir reatar as relações de harmonia com a natureza, mas sim usar a tecnologia existente para que, de algum modo, consigamos a tal sonhada sustentabilidade. Esse "algum modo" é o nosso futuro e dele dependemos.
Uma coisa é certa: não se pode esperar que as ações governamentais dos países ricos façam o trabalho. Pode estar certo que, se pudessem, dariam para nós bicicletas necessárias para que eles continuassem a ir ao trabalho de carro. Clichê ou não, faça você a sua parte. Tire um tempo pra refletir sobre o seu papel nisso tudo e, também, eduque seus filhos de maneira sustentável. Eles são a semente de uma possível mudança nas diretrizes mundiais. Lembre-se que quando deixamos para o "outro" as nossas preocupações, esse outro pode ser um tal de "George W. Bush, a Besta", bem aos moldes romanos.
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Um comentário:
Meu amigo...
Não tenho mais dúvidas da capacidade que pessoas como você tem de olhar o mundo separando cada coisa da maneira mais clara possível, ponderando cada peculiaridade. E mais importante do que essa capacidade de discernimento, é a capacidade que nós Pensantes temos de juntar essas peças e, através de palavras tão bem escritas, compartilhar com o mundo nossas sensações, opiniões e impressões.
Acima das palavras. Teu texto é de uma clareza tanta que ao ler, me senti como se estivesse passeando por entre teus pensamentos. Acho que isso é fruto da sintonia que conseguimos ao longo de tantas experiências compartilhadas. É a nossa "bolha" funcionando novamente.
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