Descobri tardiamente minha paixão pela escrita. Acho que um pouco por comodismo, preguiça talvez, eu nunca mais escrevi nada depois dos tempos do colegial, durantes os quais tinha que escrever compulsoriamente uma redação por semana. Exigências pré-vestibulares.
Já naquela época eu percebi que tinha jeito pra coisa. Certa vez, no primeiro ano, o professor Toninho - um louco que dava aula de redação, dono da escola inclusive - passou para a sala um conto de Dalton Trevisan que se tratava de uma carta que uma mulher escrevia para o ex-marido falando da falta que o homem fazia em casa, dos cantos da casa que pareciam diferentes sem a presença dele. Curioso era que a carta era escrita de uma forma que não deixava transparecer um desespero para que o marido voltasse, muito menos que ela estava arrependida da separação, talvez nem fosse uma carta, parecia mais um relato de como a vida da mulher mudara o sentido depois que o marido partiu. Enfim, o professor pediu que a sala escrevesse uma resposta àquela carta, sob a ótica do marido. Eu escrevi a resposta também da mesma maneira, ressaltando pequenos detalhes do dia-a-dia nos quais o casal se completa, mesmo nas pequenas coisas, como a mulher que passa a camisa amarrotada do marido ou o marido que troca o botijão de gás da casa. Modestia a parte, ficou muito bom.
Lembro-me que escrevi o texto às pressas, no último dia do prazo - qualquer semelhança com o cumprimento de prazos da faculdade não é mera coincidência. Inclusive escrevi o texto no computador, não sei porque motivo, talvez achei que fosse mais rápido. Enfim, no outro dia, ao entregar o texto e depois de o professor ter lido, ele chegou com o texto impresso, parou a minha frente e disse: "Tem certeza que foi você quem escreveu isso?" Eu, sabendo que ele não ia muito com a minha cara e ainda pesava o fato de o texto ter sido entregue impresso, e não escrito à mão, me lembro que disse algo do tipo: "Foi sim, acredite se quiser". E não é que o cara nem titubeou. Me deu os parabéns e disse que o texto estava espetacular, disse até que tentaria publicá-lo no Jornal Momento (esse mesmo em que o Bigão "Rooooocker" escreve). Aquilo pra mim foi como se o Super-Homem tivesse dado aquele puta sopro dele pra inflar meu ego. Me senti nas nuvens.
Depois disso, mostrei o texto pra minha mãe, que mostrou pra minha vó, que mostrou pro meu vô, que mostrou pra minha tia... chegou até a um cunhado do meu vô que mora em Santos, se não estou enganado... aquilo pra mim era o mais longe que eu podia chegar.
Mas graças à "bolha" - alguns poucos vão entender o que isso significa, mas entenda como quiser - surgiu a Internet. E hoje, o que eu escrevo pode chegar a qualquer lugar do mundo (Lari, tá lendo isso daí de Boston né?).
Bendito dia em que, sentados na mesa de um bar - onde nascem as melhores idéias - nasceu a Feira Livre de Pensamentos. Ainda sem nome naquele dia. Foi depois disso que voltei a escrever e lembrei que eu realmente levo jeito pra coisa. O tempo passa voando quando estou escrevendo. O prazer de poder me expressar se torna completo quando escrevo. Analogamente, quando estou escrevendo, me sinto um Fidel Castro, a discursar por horas e horas. A diferença é que o velho comunista faz isso magistralmente com a fala. Já eu, tenho mais medo de falar do que político tem de grampo telefônico. Talento a ser desenvolvido.
Por fim, essas últimas semanas, desde o primeiro post, têm sido para mim quase como uma auto-análise. A cada texto que termino de escrever é como se eu tivesse descarregado uma bateria de "energias positivas" e a cada vez que recebo um elogio pelo que escrevo, ou pelo menos quando sei que alguém teve a paciência de ler, é como se eu sentisse que essas energias foram realmente absorvidas pelas pessoas. É uma sensação muito boa. Me sinto mais completo quando isso acontece. Por isso peço encarecidamente aos Pensantes e aos leitores do blog que continuem acessando e lendo os textos, mas principalmente que também descarreguem suas energias aqui. A sensação é indescritível. Precisamos de vocês.
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