
Já naquela época eu percebi que tinha jeito pra coisa. Certa vez, no primeiro ano, o professor Toninho - um louco que dava aula de redação, dono da escola inclusive - passou para a sala um conto de Dalton Trevisan que se tratava de uma carta que uma mulher escrevia para o ex-marido falando da falta que o homem fazia em casa, dos cantos da casa que pareciam diferentes sem a presença dele. Curioso era que a carta era escrita de uma forma que não deixava transparecer um desespero para que o marido voltasse, muito menos que ela estava arrependida da separação, talvez nem fosse uma carta, parecia mais um relato de como a vida da mulher mudara o sentido depois que o marido partiu. Enfim, o professor pediu que a sala escrevesse uma resposta àquela carta, sob a ótica do marido. Eu escrevi a resposta também da mesma maneira, ressaltando pequenos detalhes do dia-a-dia nos quais o casal se completa, mesmo nas pequenas coisas, como a mulher que passa a camisa amarrotada do marido ou o marido que troca o botijão de gás da casa. Modestia a parte, ficou muito bom.
Lembro-me que escrevi o texto às pressas, no último dia do prazo - qualquer semelhança com o cumprimento de prazos da faculdade não é mera coincidência. Inclusive escrevi o texto no computador, não sei porque motivo, talvez achei que fosse mais rápido. Enfim, no outro dia, ao entregar o texto e depois de o professor ter lido, ele chegou com o texto impresso, parou a minha frente e disse: "Tem certeza que foi você quem escreveu isso?" Eu, sabendo que ele não ia muito com a minha cara e ainda pesava o fato de o texto ter sido entregue impresso, e não escrito à mão, me lembro que disse algo do tipo: "Foi sim, acredite se quiser". E não é que o cara nem titubeou. Me deu os parabéns e disse que o texto estava espetacular, disse até que tentaria publicá-lo no Jornal Momento (esse mesmo em que o Bigão "Rooooocker" escreve). Aquilo pra mim foi como se o Super-Homem tivesse dado aquele puta sopro dele pra inflar meu ego. Me senti nas nuvens.
Depois disso, mostrei o texto pra minha mãe, que mostrou pra minha vó, que mostrou pro meu vô, que mostrou pra minha tia... chegou até a um cunhado do meu vô que mora em Santos, se não estou enganado... aquilo pra mim era o mais longe que eu podia chegar.
Mas graças à "bolha" - alguns poucos vão entender o que isso significa, mas entenda como quiser - surgiu a Internet. E hoje, o que eu escrevo pode chegar a qualquer lugar do mundo (Lari, tá lendo isso daí de Boston né?).
Bendito dia em que, sentados na mesa de um bar - onde nascem as melhores idéias - nasceu a Feira Livre de Pensamentos. Ainda sem nome naquele dia. Foi depois disso que voltei a escrever e lembrei que eu realmente levo jeito pra coisa. O tempo passa voando quando estou escrevendo. O prazer de poder me expressar se torna completo quando escrevo. Analogamente, quando estou escrevendo, me sinto um Fidel Castro, a discursar por horas e horas. A diferença é que o velho comunista faz isso magistralmente com a fala. Já eu, tenho mais medo de falar do que político tem de grampo telefônico. Talento a ser desenvolvido.
Por fim, essas últimas semanas, desde o primeiro post, têm sido para mim quase como uma auto-análise. A cada texto que termino de escrever é como se eu tivesse descarregado uma bateria de "energias positivas" e a cada vez que recebo um elogio pelo que escrevo, ou pelo menos quando sei que alguém teve a paciência de ler, é como se eu sentisse que essas energias foram realmente absorvidas pelas pessoas. É uma sensação muito boa. Me sinto mais completo quando isso acontece. Por isso peço encarecidamente aos Pensantes e aos leitores do blog que continuem acessando e lendo os textos, mas principalmente que também descarreguem suas energias aqui. A sensação é indescritível. Precisamos de vocês.
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