quarta-feira, 30 de julho de 2008

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Duas visões, um mesmo assunto.

Apesar do abandono, a Feira sempre será um espaço aberto para expressar meus sentimentos. Não tenho conseguido sentar e escrever tudo o que meu coração conturbado quer dizer, mas é bom poder voltar aqui e lembrar que ainda pulsa em mim a sensibilidade que outrora descobri ter. Sensibilidade essa que tem sido fundamental para que eu enfrente um momento difícil na minha vida. Prometo voltar, Feira. Não te abandonei, muito menos deixei apagar a chama que um dia brilhou imponente. Só estou tentando buscar forças para que essa chama brilhe muito mais.


Um passo de cada vez. No momento, volto pra mostrar pros leitores do blog (os restantes) como um mesmo assunto pode ter duas visões completamente diferentes. O assunto, nesse caso é a Lei Seca no Trânsito.
O primeiro texto abaixo é a visão do Bigão Rocker (lembram dele? vejam aqui) o "colunista" do roquenrow, rei das canetadas sem sentido e do vômito verborréico, o último rocker (como ele mesmo diria) publicado na edição de 11 de Julho do jornal Classificados & Cia. O segundo texto é de Drauzio Varela, publicado no Caderno ILUSTRADA da FOLHA DE SÃO PAULO, do dia 19 de Julho.

Leiam e comparem a diferença entre alguém que se diz "colunista" ou "jornalista" e apenas vomita palavras e de outra pessoa que, mesmo sem ser jornalista consegue, através de uma linguagem simples e objetiva, falar sobre um assunto tão polêmico de maneira magistral. Tirem sua próprias conclusões. Os textos:


Se em terra de cego quem tem um
olho é rei Imagine quem tem os três...
(claro que o terceiro olho é o da mente,
o olho de visionário, o que vai além).

por Bigão Rocker

• Com essa nova lei de trânsito que foi
criada impedindo quase que totalmente
o uso de bebida alcoólica para motoristas,
lei que já existia, mas que foi modificada
arrefecida, endurecida e emburrecida,
nosso país deixa claro mais
uma vez que estamos nas mãos de uma
corja de ladrões insanos que cada vez
mais só demonstram estarem distantes
da realidade e sem saber o que fazer,
navegam num mar de elucubrações
alucinógenas.
• Tem gente que só de passar perto de
um copo de pinga já fica bêbado, outros
tomam uma lata de cerveja e perdem
parte dos reflexos e alguns podem beber
uma caixa de cerveja de garrafa
contendo cada uma 600ml e não se embriagam.
Então como igualar, comparar
e equiparar pessoas, sendo que sabemos
que existem pessoas que até sóbrias
já são um perigo, com outras que
se mantêm equilibradas e com bom
senso mesmo depois de uma festa ou
ao sair de um bar.
• Tudo bem que a minha herança genética
já é de grande valia, nunca em toda
minha vida vi meu pai ter algum problema
ao volante depois de algum evento
em que a bebida alcoólica estivesse no
cardápio, mas em verdade o grande segredo
não está na herança genética ou
na resistência do organismo de cada
um, está sim no fato de que na herança
meu pai deixou-me educação. É, educação,
sim senhor, pois ocorre que tem
uns abobalhados que se conhecem
muito bem, sabem que não podem beber,
mas são os que mais querem fazer
gracinhas mostrando que agüentam,
que podem beber, bebem muuuiiiiiiiiiito
para demonstrar sua fraqueza de caráter
e seu machismo esguio.
• Não defendo alcoolismo, pois como
eu bem disse acima, pagamos pelos
erros dos outros, dos fracos e dos desvalidos
de vontade e de discernimento.
Não queremos mesmo mais bêbados
babões sobre armas, com o controle,
ou melhor, sem controle nenhum dentro
de verdadeiros tanques de guerra
que são os veículos motorizados, com
o volante nas mãos prestes a atropelar
crianças ou qualquer um que desavisado
ou guiado pelas mãos de um destino
cruel vier a cruzar o caminho de
um destes entorpecidos.
• Mas o que mais me preocupa é a
autoridade ditatorial do Estado brasileiro,
que quando não é oito é oitenta, e
quem sempre paga o pato, caríssimo
por sinal, somos nós, e que muitas vezes
injustamente, enquanto um promotor,
um juiz demente enche a cara e
atropela qualquer um e não sofre nenhum
tipo de punição devido ao seu
cargo.
• É como querer transformar uma civilização
indígena em cidadãos europeus
de um dia para o outro. Ou como
Aldous Huxley predisse: o “sistema”
nos manipulará com um alto controle,
não seremos livres nem para pensar,
mas não se assuste, se você ainda não
leu Admirável mundo novo...

Lei Seca no Trânsito

por Drauzio Varella

GOSTO DE BEBER, e confesso sem o menor sentimento de culpa. Álcool, de vez em quando, em quantidade pequena, dá prazer sem fazer mal à maioria das pessoas. Aos sábados e domingos, quando estou de folga, tomo uma cachaça antes do almoço, hábito adquirido com os carcereiros da antiga Casa de Detenção. Difícil é escolher a marca, o Brasil produz variedade incrível. Tomo uma, ocasionalmente duas, jamais a terceira. Essa é a vantagem em relação às bebidas adocicadas que você bebe feito refresco, sem se dar conta das conseqüências. Cachaça impõe respeito, o usuário sabe com quem está lidando: exagerou, é vexame na certa.
Cerveja, tomo de vez em quando. O primeiro gole é um bálsamo para o espírito; no calor, depois de um dia de trabalho e horas no trânsito, transporta o cidadão do inferno para o paraíso. O gole seguinte já não é igual, infelizmente. A segunda latinha decepciona, deixa até um resíduo amargo; a terceira encharca.
Uísque e vodca, só tenho em casa para oferecer às visitas.
De vinho eu gosto, mas tomo pouco, porque pesa no estômago. Além disso, meu paladar primitivo não permite reconhecer notas de baunilha ou sabores trufados; não tenho idéia do que seja uma trava sutil de tanino, nem o aroma de cassis pisado, nem o frescor de framboesas do campo. Em meu embotamento olfato-gustativo, faço coro com os que admitem apenas três comentários diante de um copo de vinho: é bom, é ruim, e bebe e não enche o saco.
Feita essa premissa, quero deixar claro ser a favor da chamada lei seca no trânsito.
Sejamos sensatos, leitor, tem cabimento ingerir uma droga que altera os reflexos motores, o equilíbrio e a percepção espacial de objetos em movimento e sair por aí pilotando uma máquina na qual uma pequena desatenção pode trazer conseqüências fúnebres?
Ainda que você não seja ridículo a ponto de afirmar que dirige melhor quando bebe, talvez possa dizer que meia garrafa de vinho, três chopes ou uísques não interferem na sua habilidade ao volante.
Tudo bem: vamos admitir que, no seu caso, seja verdade, que você tenha maior resistência aos efeitos neurológicos e comportamentais do álcool e que seria aprovado em qualquer teste de resposta motora.
Imagino, entretanto, que você tenha idéia da diversidade existente entre os seres humanos. Quantas mulheres e quantos homens cada um de nós conhece para os quais uma dose basta para transtorná-los?
Quantos, depois de duas cervejas, choram, abraçam os companheiros de mesa e fazem declarações de amizade inquebrantável? Está certo permitir que esses, fisiologicamente mais sensíveis à ação do álcool, saiam por aí colocando em perigo a vida alheia?
Como seria a lei, então? Deveria avaliar as aptidões metabólicas e os reflexos de cada um para selecionar quem estaria apto a dirigir alcoolizado? O Detran colocaria um adesivo em cada carro estabelecendo os limites de consumo de álcool para aquele motorista? Ou viria carimbado na carteira de habilitação?
Talvez você possa estar de acordo com a argumentação dos advogados que defendem os interesses dos proprietários de bares e casas noturnas: "A nova lei atenta contra a liberdade individual".
Aí, começo a desconfiar de sua perspicácia. Restrições à liberdade de beber num país que vende a dose de pinga a R$ 0,50? Há escassez de botequins nas cidades brasileiras, por acaso? Existe sociedade mais complacente com o abuso de álcool do que a nossa?
Mas pode ser que você tenha preocupações sociais com a queda de movimento nos bares e com o desemprego no setor.
A julgar por essa lógica, vou mais longe. Como as estatísticas dos hospitais públicos têm demonstrado nos últimos fins de semana, poderá haver desemprego também entre motoristas de ambulâncias, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, agentes funerários, operários que fabricam cadeiras de rodas, sondas urinárias e outros dispositivos para deficientes físicos.
No ano passado, em nosso país, perderam a vida em acidentes de trânsito 17 mil pessoas. Ainda que apenas uma dessas mortes fosse evitada pela proibição de beber e dirigir, haveria justificativa plena para a criação da lei agora posta em prática.
Não é função do Estado proteger o cidadão contra o mal que ele faz a si mesmo. Quer beber até cair na sarjeta? Pode. Quer se jogar pela janela? Quem vai impedir?
Mas é dever inalienável do Estado protegê-lo contra o mal que terceiros possam causar a ele.



Entenderam? rsrs.. Talvez seja por isso que o primeiro seja "jornalista" e escreva em um jornalzinho fuleiro de circulação regional e distribuido gratuitamente e o outro mesmo sendo um médico, tem uma coluna em um dos maiores jornais do país. (Adoraria que o Bigão lesse isso... rsrsrs... cutucando a onça, parte 2)