segunda-feira, 12 de julho de 2010

Soneto: "Ilusão de Ótica"

A luz que me ilumina e me revela
afronta-me com minha própria imagem.
Faz do espelho uma enorme janela.
Traiçoeiro encanto de uma miragem

Uma forma desprovida da essência
abstem-se de complexidade qualquer
Lacuna preenchida de ausência
mostra-se a casca e esvazia-se o ser

A fuga por inconsciente anseio
semeia um incontrolável desejo
de atravessar o espelho sem receio

Por ser fraco, conservo em mim o medo .
Não me entrego ao encanto que vejo
pois sempre amei a mim mesmo em segredo.

Léo Castro

domingo, 16 de maio de 2010

Virada cultural

São Paulo... São Paulo é um lixo mas eu não vivo sem ela.

Sou um grande fã desses eventos em que temos que nos locomover, em clima de procissão, enquanto nos embriagamos. É coisa de gente saudável.

O título do post foi extremamente mal escolhido porque eu muito me conheço e sei que não sou bom em fazer resenhas de eventos.

- Alô
- Credo! Que voz é essa? Como foi a virada?
- Bebi pra caralho!
- Que shows vocês viram?
- A Elza Soares é legal. E eu nem sou grande fã de samba.
- Conta mais...
- Encontrei uns amigos que não via há tempos.
- Ah...
- É...

E assim se passou minha noite de sábado. Metrô lotado às 6 da manhã. Dormi como uma pedra e acordei com pensamentos muito negativos. Confesso que não deveria me deixar abalar por mais uma ressaca moral dominical. Até mesmo porque o porre foi semi-intencional. A fórmula do insucesso é a velha combinação de fossa, álcool e amigos. Sabe aquela manhã em que você já começa mandando mensagens com pedidos de desculpa e até telefona pra saber se as pessoas ainda gostam de você?
Enfim... Desculpa aí, mundo...

E eu que não sou de fugir dos meus problemas (?), saio de casa atrás de uma breja...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Seja Indiferente ou Faça a Diferença

Tinha um cara que se achava diferente.
Era um cara comum, como eu e você, mas ele sabia que era diferente.
Ele não sabia no que, mas tinha certeza que era diferente em alguma coisa.

Não sei se era diferente de todo mundo, ou diferente da maioria.
Também não tenho certeza se tinha algúem igual ou parecido.

Se era bom ou ruim ser diferente?
Ele morreu sem saber.

Afinal, ele sabia que era diferente, mas insistia em fazer igual a todo mundo.

****


Tinha também outro cara que não sabia que era diferente.
Talvez soubesse, mas isso não fazia a menor diferença.
Todo mundo insistia que ele tinha algo de diferente.
Mas ele teimava em não admitir a diferença.

Diferente de todo mundo, eu realmente não achava ele diferente.
Mas não conheci ninguém que fez igual a ele.

Se ele era indiferente?
Ele morreu certo de que não era.

Afinal, ele fez a diferença, mas insistiu o tempo todo que qualquer um poderia fazer igual.

Léo Castro

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Poesia de Amor Pós-Contemporânea Experimental (Estrutura poética: Messenger)


Leitores da Feira Livre de Pensamentos, permitam-me experimentar uma viagem poética inspirada em um meio de comunicação muito utilizado na era da Internet, onde por incrível que pareça, surgem diariamente milhares de amores. Amores únicos que, apesar da distância física conseguem se fortalecer através de uma proximidade inexplicável.

  
- Ela diz:
que bom saber que faço parte das pessoas importantes da sua vida, no fundo acho que sempre tive essa certeza

- Ele diz:
claro que sim, menina encanto... menina fantasia...menina que brilha

- Ela diz:
menino, só tento ver a vida com olhos mais bonitos e não viver em vão. E pra q nunca se esqueça, também me faz sentir coisas incríveis..

- Ele diz:
mas não sou puro como vc, menina... sou das ruas... sou da malicia... não consigo ver o brilho no dia-a-dia...
sou volúvel e vulnerável, as vezes nem sou confiável...
Na verdade sou um homem bem complicado, menina
Sou apenas um cara muito estranho que fala através de um rompante de inspiração que vem não sei d´onde.

- Ela diz:
hahahaha
eu te entendendo, menino =)
e também me inspiro quando falo contigo!!

- Ele diz:
AMO VC, MENINA
é estranho, mas é encantador te amar daqui de longe
será que nos amaremos pra sempre a essa distancia?

- Ela diz:
hahaha acho q sim! =]

- Ele diz:
Será que existem outras pessoas no mundo com o mesmo "sei lá o que é isso que acontece entre a gente"?

- Ela diz:
o mundo é tão grande! Mesmo assim, de longe tão perto de mim mesma



- Ele diz:
o mundo é mesmo muito grande... mas a gente tb é tão raro... 
vc quase eu, eu quase vc

- Ela diz:
talvez sejamos mesmos únicos,o q nos torna seres especiais, que têm o mundo inteiro ao seu dispor

- Ele diz:
sendo assim, decreto que somos o único casal do mundo que tem "sei lá o que é isso que acontece entre a gente"
vc=eu, eu=vc

- Ela diz:
amo vc menino. e o que mais me encanta em ti é poder viver a poesia cotidiana...

- Ele diz:
ISSO MESMO, MENINA!
uma poesia que transita sublimemente entre a tua pureza e a minha obscuridade, nos transformando na poesia perfeita

menina, forma comigo a poesia perfeita?
me completa?

- Ela diz:
te completo menino =)

- Ele diz:
Tenho que ir
ótima noite pra ti. 
Te amo, menina que brilha

- Ela diz:
que seja doce pra nós! =)
 boa noite, menino
com todo meu amor.

Léo Castro, com a ajuda de alguém muito especial


domingo, 4 de abril de 2010

Mais uma homenagem


Já em vida, sempre tentei prestar homenagens àquele que considerei meu ídolo maior: meu avô José Valdo de Castro. Uma delas foi o texto postado nesse blog chamado 1+1=1. Outra homenagem foi uma ilustração também postada aqui. Mas além disso, não cansava de dizer a ele o quanto era importante pra mim em diversos momentos. Minha paciência para ouvir suas histórias (mesmo que algumas vezes ele as repetisse) minha admiração escancarada, meu choro compartilhado. Eu também adorava receber seus elogios, principalmente quando ele bebia sua sagrada cachacinha. Eu, meu irmão Juca e meu pai, muitas vezes comprávamos uma garrafa de pinga escondidos do resto da família. Mas ele adorava aquilo. Sua História lhe dava o direito de sair da realidade por alguns momentos e curtir uma embriaguez. Uma embriaguez que lhe fazia lembrar de sua linda História e querer compartilhar ainda mais com seus entes queridos. Em muitos desses momentos, ouvi palavras lindas de meu avô. Algumas direcionadas diretamente a mim. Coisas que nunca esquecerei. Outras direcionadas à todos que seguiram sua "cartilha".
José Valdo, tinha o dom da palavra. Em qualquer celebração em que seus entes queridos e admiradores estavam presentes, ouvia-se o coro: "Discursa, Zé Vardo". Ele não perdia tempo e logo roubava a cena com palavras que emocionavam a todos.
Por isso, farei uma homenagem ao grande José Valdo de Castro tentando representar o tom de seus discursos, muitas vezes repetitivos, mas que sempre continham a essência da verdade e da sabedoria que carregava aquele homem.
Peço permissão, meu avô.

"Moro no mundo, não sou vagabundo
Nasci assim, sou filho do Joaquim.
Caminhei nessa terra para cumprir uma missão
E sei que dessa terra parto com o dever cumprido.
E caminhar... é andar sobre o chão de barro,
cavalgar sobre estradas e ruas
carregando valores que nos foram passados por nossos entes queridos.
E carregar valores... não é julgar o ato do próximo
e sim tentar corrigir seus próprios atos
admitindo ter errado,
não uma, nem duas, mas muitas vezes.
E errar... é o impulso que nos faz lembrar
que nossa vida é compartilhada com muitas outras,
vidas que nos acompanham,
vidas que nos ensinam,
vidas que nos contemplam.
Aos meus filhos, netos e bisnetos,
digo que não tomem minha vida como exemplo,
mas sim minha História.
História que vivi,
História que escrevi,
História que discursei.
A vocês, entes queridos
que poderão, e deverão continuar essa História
deixei-lhes uma cartilha.
E seguir essa cartilha.... garanto a todos
não é ter a felicidade plena,
mas é saber como procurá-la,
seguindo os passos de um Homem
cuja vida foi vivida intensamente.
Aos meus filhos e netos,
espero que sejam gratos aos meus ensinamentos,
assim como sou grato ao carinho e atenção de todos vocês.

Sou uma besta comum? ou qualquer coisa?
Me digam..."


Eu respondo, meu querido avô. Fostes uma besta de genialidade e sabedoria. Se depender de mim, tua História nunca morrerá. Estarás para sempre no coração e na mente dos que estudaram em tua cartilha. Estarás para sempre na História. História com H maiúsculo. Serás sempre digno de todas as honras e homenagens que a ti fizeram, porque teu legado é grandioso. Com tua partida, nós, filhos e netos, que ficamos na Terra saudosos de tua ilustre presença, soubemos que o único caminho é a nossa harmonia. Saberemos perdoar uns aos outros. Tentaremos dividir o que nos ensinaste. Sempre buscando a felicidade.
Tua falta será sentida eternamente, mas tua sabedoria nunca nos faltará.
Olhai por nós, meu querido avô. Olhai por tua querida esposa. Tua eterna companheira Nina. Aquela guerreira que nunca fraquejou diante das dificuldades, e que faz de tudo para amenizar o sofrimento daqueles que ama. Olhai por teus filhos e netos. Olhai por todos os que te amam, meu sábio ancião.

No momento em que escrevo essa homenagem acontece a missa de sétimo dia de falecimento de meu avô José Valdo de Castro. Não compareci à missa, mas mesmo cansado de uma noite intensa de trabalho, me senti obrigado por uma inspiração maior a escrever esse texto. 

Bença, Vô.

Léo Castro (um dos que estudou na cartilha do Homem)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

As últimas horas

Foi bom ter vivido para ficar na História - disse o Homem. A vida já se ia. O coração já batia em um ritmo acelerado, sentindo-se culpado por não estar cumprindo direito sua função de levar oxigênio para o resto do corpo. Mas a culpa não era dele. Era o pulmão que não mais trabalhava como deveria. Assim disse o Homem suas últimas palavras em total lucidez. Enquanto o neto do Homem tentava acalmá-lo, segurando sua mão e transmitindo tranquilidade em sua fala e em seu toque. Mas por dentro, o neto do Homem estava desesperado. O Homem sempre fora muito lúcido. Por que haveria de começar a delirar?. Os enfermeiros não podiam ajudar. Pediram que o neto tentasse ignorar os apelos do avô, para que ele desistisse e tentasse relaxar. Mas como ignorar o apelo daquele que o ensinou quase tudo na vida? "Me ajuda, meu neto. Estou passando mal. Me leva pra cama. Desamarra meus pés." Tentava acalmá-lo participando de seus delírios. Era só o que podia fazer. A voz, que há algumas horas nem saia, voltava mais forte a cada vez que o Homem clamava pela ajuda do neto. Era a "melhora da morte". Quando cansava de pedir ajuda, seguiam-se minutos de serenidade. Eram os minutos em que o neto segurava a mão direita do Homem e chorava um choro de gratidão. Ao mesmo tempo pedia perdão pela incapacidade de ajudá-lo naquele momento de dor.
Chegou a manhã, depois de uma noite inteira sem fechar os olhos. O neto, por fim, atordoado pela noite em claro, acabou deixando o quarto do hospital sem se despedir do Homem. Arrependeu-se depois. Mas sabia que já havia se despedido no começo da noite anterior, enquanto o Homem ainda era lúcido. Enquanto tentava confortar a dor do avô, dizendo que sua missão já havia sido cumprida, que sua história já estava escrita na eternidade. O que restava era viver seus últimos dias de vida com dignidade. O neto não sabia que seriam as útlimas horas. O Homem sabia. Por isso disse a frase que abriu esse relato: "Foi bom ter vivido para ficar na História".

"Vai com Deus, meu Ídolo, meu Herói"
Léo Castro
ao querido avô José Valdo de Castro
25/05/1925 - 29/03/2010

sexta-feira, 26 de março de 2010

Justiceiros freelancers


São 2 horas da manhã e as emissoras transmitem, ao vivo para todo o país, o desfecho do julgamento do casal Nardoni. O público se diverte com a oportunidade de presenciar um apedrejamento em praça pública. Eu não diria que é adequado atirar criancinhas através de janelas de prédios, na maioria dos casos. Da mesma forma, o bom senso me diz que, promover um show de horrores desta magnitude, também não é uma boa idéia.

A multidão faz um carnaval, pessoas gritam em côro, torcidas adversárias se enfrentam, profetas carregando faixas anunciam o castigo divino... Porra! Deus é onipresente, certo? A justica D'Êle não falha, não é verdade? Então fiquem tranqüilos porque Êle certamente está por dentro dos fatos e vai sair do bunker e agir no momento certo. E digo mais: Êle sabe de tudo porque é Êle mesmo que está mexendo os pauzinhos pra tudo dar certo... hahahahahah...

Mas falando sério...
Qual é o intuito de se promover este gigantesco show de horrores?
Será que sacrificaram os dois prováveis assassinos só pra fazer a manada acéfala acreditar que no Brasil se faz justiça?

Pára essa merda que eu quero descer...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Esbórnia

Há uns 5 anos atrás, em um de meus incontáveis deslocamentos entre a "cidade do clima" e este inferno que eu chamo de "minha terra natal", tive o prazer de me sentar no ônibus ao lado de um "pastor". Não era do tipo que pastoreava rebanhos de ovinos. Era do tipo que arrebanhava humanos. E creio que também não era do tipo "cão", "graças a Deus"...

Conversamos por alguns minutos. Pensei em processá-lo ou chamar a polícia mas achei que bastava dormir.

"Sou da Igreja Quadrangular do..." - disse o senhor.
"Quadrado de 5 lados..." - pensei.
"Eu era igualzinho a você. Vivia na esbórnia." - disse ele.

Esbórnia...
Até hoje adoro essa palavra.

Bom carnaval!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Rotina

“... mantendo-se fiel aos princípios morais e valores de nossos fundadores, a Blue Sky Corp. trabalha para oferecer soluções e ajudá-lo a alcançar seus objetivos (…) focada na preservação ambiental (…) valorização do ser humano (…) esperanças e um futuro melhor para nossos jovens (…) de maneira sustentável (…) visando o bem-estar (…) bla bla bla (…) Blue Sky Corp. (...) Depto de (…) Carlos...”

- Bem-estar do meu pau, parasitas – resmungou Carlos. Esticou o braço para alcançar o papel higiênico.
- Anos de dedicação, limpando os rastros de merda que esses filhos da puta espalham por todos os lados – pensou. Amassou o cartão de visita e o atirou no cesto de lixo.
- Ingratos – disse ele, enquanto terminava de se limpar.

Carlos retornou ao escritório e olhou para o relógio no alto da parede. Quatro horas e vinte minutos. Não faltava muito, afinal. Pegou o telefone e discou o ramal de sua secretária:
- Srta. Joana, cancele todos os meus compromissos para hoje – ele disse.
- Mas, Sr. Carlos, o Sr. Matuzalém espera que lhe entregue a revisão de seu relatório – ela respondeu.
- Hum... Entendo, Srta. Joana. Então faça o seguinte: Diga-lhe que deixei um recado. Anote, sim?
- Claro, Sr. Carlos, pode falar.
- Diga-lhe que vá para o inferno – exclamou ele.
- Mas, Sr. Carlos - ela arregalou os olhos.
- E sugira-lhe que antes enfie o relatório no rabo - sorriu realizado.
- Oh... Está bem – ela concordou.
- E diga a ele que eu me demito. Adeus, Srta. Joana...
- Até amanhã, Sr. Carlos...

Sem olhar para trás, Carlos partiu, orgulhoso, rumo à saída do edifício. Que lindo dia para se tomar uma cerveja – concluiu Carlos. Olhou para os dois lados e atravessou a rua. Caminhou alguns metros e entrou no boteco mais fedorento disponível. Sentou-se no balcão do bar e pediu uma cerveja.

Algumas horas e treze cervejas depois, Carlos já se sentia mais feliz. Se divertia com as catástrofes e desgraças no noticiário da noite. Olhou para o relógio e viu que já era tarde. Preciso ir pra casa – pensou – Amanhã entro cedinho no escritório.