Já em vida, sempre tentei prestar homenagens àquele que considerei meu ídolo maior: meu avô José Valdo de Castro. Uma delas foi o texto postado nesse blog chamado
1+1=1. Outra homenagem foi uma ilustração também postada
aqui. Mas além disso, não cansava de dizer a ele o quanto era importante pra mim em diversos momentos. Minha paciência para ouvir suas histórias (mesmo que algumas vezes ele as repetisse) minha admiração escancarada, meu choro compartilhado. Eu também adorava receber seus elogios, principalmente quando ele bebia sua sagrada cachacinha. Eu, meu irmão Juca e meu pai, muitas vezes comprávamos uma garrafa de pinga escondidos do resto da família. Mas ele adorava aquilo. Sua História lhe dava o direito de sair da realidade por alguns momentos e curtir uma embriaguez. Uma embriaguez que lhe fazia lembrar de sua linda História e querer compartilhar ainda mais com seus entes queridos. Em muitos desses momentos, ouvi palavras lindas de meu avô. Algumas direcionadas diretamente a mim. Coisas que nunca esquecerei. Outras direcionadas à todos que seguiram sua "cartilha".
José Valdo, tinha o dom da palavra. Em qualquer celebração em que seus entes queridos e admiradores estavam presentes, ouvia-se o coro: "Discursa, Zé Vardo". Ele não perdia tempo e logo roubava a cena com palavras que emocionavam a todos.
Por isso, farei uma homenagem ao grande José Valdo de Castro tentando representar o tom de seus discursos, muitas vezes repetitivos, mas que sempre continham a essência da verdade e da sabedoria que carregava aquele homem.
Peço permissão, meu avô.
"Moro no mundo, não sou vagabundo
Nasci assim, sou filho do Joaquim.
Caminhei nessa terra para cumprir uma missão
E sei que dessa terra parto com o dever cumprido.
E caminhar... é andar sobre o chão de barro,
cavalgar sobre estradas e ruas
carregando valores que nos foram passados por nossos entes queridos.
E carregar valores... não é julgar o ato do próximo
e sim tentar corrigir seus próprios atos
admitindo ter errado,
não uma, nem duas, mas muitas vezes.
E errar... é o impulso que nos faz lembrar
que nossa vida é compartilhada com muitas outras,
vidas que nos acompanham,
vidas que nos ensinam,
vidas que nos contemplam.
Aos meus filhos, netos e bisnetos,
digo que não tomem minha vida como exemplo,
mas sim minha História.
História que vivi,
História que escrevi,
História que discursei.
A vocês, entes queridos
que poderão, e deverão continuar essa História
deixei-lhes uma cartilha.
E seguir essa cartilha.... garanto a todos
não é ter a felicidade plena,
mas é saber como procurá-la,
seguindo os passos de um Homem
cuja vida foi vivida intensamente.
Aos meus filhos e netos,
espero que sejam gratos aos meus ensinamentos,
assim como sou grato ao carinho e atenção de todos vocês.
Sou uma besta comum? ou qualquer coisa?
Me digam..."
Eu respondo, meu querido avô. Fostes uma besta de genialidade e sabedoria. Se depender de mim, tua História nunca morrerá. Estarás para sempre no coração e na mente dos que estudaram em tua cartilha. Estarás para sempre na História. História com H maiúsculo. Serás sempre digno de todas as honras e homenagens que a ti fizeram, porque teu legado é grandioso. Com tua partida, nós, filhos e netos, que ficamos na Terra saudosos de tua ilustre presença, soubemos que o único caminho é a nossa harmonia. Saberemos perdoar uns aos outros. Tentaremos dividir o que nos ensinaste. Sempre buscando a felicidade.
Tua falta será sentida eternamente, mas tua sabedoria nunca nos faltará.
Olhai por nós, meu querido avô. Olhai por tua querida esposa. Tua eterna companheira Nina. Aquela guerreira que nunca fraquejou diante das dificuldades, e que faz de tudo para amenizar o sofrimento daqueles que ama. Olhai por teus filhos e netos. Olhai por todos os que te amam, meu sábio ancião.
No momento em que escrevo essa homenagem acontece a missa de sétimo dia de falecimento de meu avô José Valdo de Castro. Não compareci à missa, mas mesmo cansado de uma noite intensa de trabalho, me senti obrigado por uma inspiração maior a escrever esse texto.
Bença, Vô.
Léo Castro (um dos que estudou na cartilha do Homem)