terça-feira, 4 de setembro de 2007

Nossa cara, nosso povo, nossa música.


Como definir a cara da música do Brasil? Isso é possível? Acho que não. Talvez seja tão difícil como tentar descrever um brasileiro típico. Fisicamente mesmo. São tantos tipos, cores e raças, que acredito não ser sensato tentar definir um ou outro. Por exemplo, se dissessemos que o brasileiro típico é o negro do morro que descendendo dos negros escravos continuam sua luta contra a exclusão social, provavelmente estaríamos sendo injustos com o caipira do interior que é fruto de tantas matrizes européias, misturados com índios e por aí vai. Falar o quê dos típicos sulistas, ou então dos nordestinos? Qual é a cara do brasileiro então? Não é difícil, por exemplo, definir a cara de um argentino com seus cabelos pretos quase longos, narizes compridos e queixos alongados. Ou então, um alemão com sua cabeleira dourada e bochechas avermelhadas. Ou um Boliviano, um mexicano, um italiano, etc. Talvez esse comentário possa parecer precipitado, mas é o que sei e o que sinto, tendo nunca saído do país e conhecendo essas culturas apenas pela televisão ou pela Internet. Mas o brasileiro ainda assim, para mim, não tem cara, tem caras.
Enfim, nesse Brasil de vários brasileiros típicos, a música também não pode ser definida como "a música do Brasil". São tantos traços culturais, tantos ritmos, tantos grooves que talvez não seja justo considerar o samba como a música do Brasil, até mesmo porque antes de ser "Samba" no Brasil, ele era "Semba" em Angola. Talvez a Bossa Nova? O Frevo? A moda de viola? O Forró? O Baião? Enfim, não vou ficar aqui tentando achar a música que tenha a cara do Brasil. Basta dizer que a nossa música também é multifacetada.
Acho que uma das principais razões para explicar isso, fora as dimensões continentais do nosso território e toda a diversidade cultural, talvez seja a capacidade que o brasileiro têm de executar tarefas criativas como a música (estou me contradizendo ao generalizar essa característica do brasileiro, mas é inegável a criatividade do nosso povo). Posso exemplificar isso. Alguém já viu um brasileiro tocando Jazz, ou Blues? Pois é, tocam tão bem quanto os inventores do Soul, os americanos. Diria que até melhor, pois não se contentam em apenas copiar esses estilos e acabam incorporando elementos da música do Brasil sem deixar de lado legitimidade dos grandes instrumentistas americanos. Mas alguém já ouviu um americano, ou europeu, que seja, tocando samba? Sambando então, nem se fala. Essa capacidade de se adaptar e incorporar estilos do músico brasileiro acaba criando essas diversas faces da nossa música. Muito além de simplesmente incorporar estilos, o músico brasileiro tem enorme sensibilidade para os elementos do dia-a-dia (generalizando novamente), talvez por que viva mais intensamente e calorosamente as situações do cotidiano , a ponto de conseguir aflorar essas nuances na sonoridade de sua música.
Sendo assim, talvez, melhor do que definir a cara do brasileiro ou então a cara da música brasileira seja mais sensato falarmos na personalidade do brasileiro e da música brasileira, duas coisas intimamente ligadas já que a música brasileira é feita por brasileiros e vice-versa (vice-versa sim, afinal, a música brasileira faz os brasileiros). O brasileiro é muito mais conhecido pelo seu gingado, criatividade, simpatia, intensidade, blá blá blá... do que pela cor da pele, dos olhos e tamanho do nariz. Assim como a música brasileira também pode ser bem melhor definida se considerarmos aspectos mais subjetivos e não apenas dimensões estéticas.
Nem samba, nem frevo, nem MPB, nem bossa, nem maracatu, nem baião, nem moda de viola, nem nada. A música brasileira é muito mais que isso. É a cara do nosso povo, a cara de cada povo do nosso povo. Desde o ritmo do mangue beat, até a melancolia da Bossa Nova, nossa música tem a nossa cara. Não fisicamente, mas essencialmente.

Um comentário:

João Vítor disse...

Mais um exemplo, em forma de texto, dessa fantástica esfera pulsante q somos nós!

C é truta, Léo!

=]