Pelvs
Pra começar, não foi formada: se formou. Quatro amigos que curiosamente não se conheciam mas estavam pensando música de um jeito parecido. Gustavo Seabra, Dodô, VRS Marcos e Rafael Genu. Sem instrumentos definidos a não ser no palco, quando assumiam, respectivamente, guitarra e voz, bateria, guitarra e baixo. Os três primeiros tinham acabado de sair (estamos no começo da década de 90) de uma experiência meio MPB, meio etérea, meio elétrica, chamada Verve. Deixaram a Verve para experimentar novos passos. A paixão pelo estúdio foi a primeira coisa que notaram em comum. Ensaios eram menos frequentes que as gravações ou estudos de músicas. No entanto, pouca coisa foi lançada. Três fitas-demo e um álbum independente. O que permanece escondido nem eles sabem: o intuito não era registrar, era tocar.
Logo na primeira demo a banda resolveu adotar o nome que seria o de todas as suas produções até o primeiro disco: Peter Greenaway’s Surf. Funcionou como um slogan da campanha que começou com nove músicas na demonstração inicial, 21 na segunda fita - esta intitulada Peter Greenaway’s Surf - Summer Version - e o mesmo número de faixas no vinil que também virou CD (Rock It! / 1993).
Ao contrário do nome, o som da banda mudou bastante neste rápido período de 92 a 94. O começo confuso refletia em barulheira semi-esquizofrênica. Mas a tendência para o lado da melodia aumentou e, por conseguinte, outras fronteiras tiveram que ser descobertas. A melodia ganhou espaço nas suas mais variadas manifestações, da preocupação lírica de Lloyd Cole à simplicidade feroz de Lou Reed.
Durante o ano de 95 o time ficou com um a menos. VRS Marcos teve que deixar a banda e passou a não-se-dedicar ao seu projeto Aerowillys. Atrasar o Aerowillys significava apenas atrasar a si mesmo. Ao mesmo tempo, VRS tornou-se sócio do midsummer madness, que viria a ser a nova gravadora da Pelvs por volta de 1996. Na banda, o resultado da saída de VRS foi uma nova demo no final de 96 - mm21: Bric a brac between aspirins - com faixas inéditas e novas versões (acústicas) de músicas antigas, do álbum Peter Greenaway’s Surf e das duas demos homônimas.
Era o prenúncio de um novo disco. Gustavo e Dodô construiram o Estúdio Freezer. Lá, a PELVs gravou seu segundo álbum, Members to Sunna (midsummer madness, 1997) de produção própria e que mostra uma nova cara para a banda: mais motivada para traçar seu próprio caminho.
Com uma pontualidade digna de Copa do Mundo, em 2001 eles voltam a invadir a nossa praia: nem tanto ao mar, nem tanto à terra, com Peninsula (midsummer madness) a PELVs alcança a maturidade. As composições atingiram o grau de requinte que já se anunciava em Members, mas sem abrir mão dos ganchos pop do primeiro disco. Atentos à lição de Alan Ginsberg (“o método deve ser a mais pura carne / e nada de molho simbólico”), a banda usa os recursos do estúdio Freezer não como um fim, mas como instrumento para lapidar ainda mais as canções. Outro fator que auxiliou a gestação de um trabalho tão bem resolvido é que, na contramão do “downsizing” adotado pelas empresas modernas, a PELVs havia aumentado de tamanho: agregou à sua formação o guitarrista Gordinho e o trompetista Pedro Alcoforado (que também ajudam nos vocais), além do baterista Ricardo Mito. Arriscada a se tornar um “projeto” do baixista Rafael Genu e do guitarrista, vocalista e compositor Gustavo Seabra quando Dodô, após o lançamento de Members, pendurou as baquetas, hoje a PELVs é novamente uma banda, mais entrosada no palco a cada dia que passa. Além do próprio Dodô (que canta “Acid A.L.”, composta por ele), participa ainda de Peninsula outra figurinha carimbada da indielândia carioca: Beatriz Lamego (do Stellar), responsável pelos vocais da deliciosa “Ricardo”, que encerra o disco.
Peninsula rendeu excelentes críticas. O jornalista Alexandre Matias, escrevendo para a finada revista Frente, o listou como um dos 20 discos independentes brasileiros mais importantes. No Correio Braziliense, Carlos Marcelo escreveu que o disco chegava “próximo a perfeição”. Até o hypado Lúcio Ribeiro cedeu umas poucas linhas em sua coluna na Folha de SP para dizer que o “grande toque brazuca” era o “rock’n'roll bem feito” da Pelvs. Peninsula também rendeu boas viagens: a Pelvs foi pela primeira vez ao Nordeste, tocar com Teenage Fanclub em Recife; viajou também pelo Sul abrindo todos os shows da turnê do Luna.
Pedrão deixou a banda para tocar com BNegão. Gustavo gravou com Dodô o projeto Pessoas do Século Passado (Slag/ 2003). Em 2002, com 10 anos de banda, quase lançaram uma caixa com 3 CDs de músicas extras. A caixa virou lenda quando as músicas novas começaram a entusiasmar mais a banda que levou uns 2 ou 3 anos compondo e gravando para o quarto disco, Anotherspot.
Este novo disco comprova que, às vezes, a regularidade pode ser a maior das surpresas. Na modorra do que se tem convencionado chamar de rock brasileiro, é profundamente espantoso que uma banda carioca formada há quinze anos continue lançando discos regularmente, e que cada um seja mais consistente que o anterior. A PELVs difere das suas contemporâneas porque elas estão mortas e enterradas, e distingue-se da produção recente não só pela qualidade, mas porque é bem difícil imaginar alguma banda nova que venha a desenvolver uma carreira. Talvez porque os neófitos, como todo calouro, ainda tenham a pretensão de se tornarem “grandes”, e nisto apostem suas fichas; a PELVs já se contentou, há muito, em criar uma obra. O que não é pouca coisa.
A produção e as composições de Anotherspot, como sempre, são da banda, com destaque para Gustavo, eterno centro criativo da PELVs. O baixista Rafael Genú é o outro pilar restante da fundação, enquanto Gordinho e o baterista Ricardo Mito são remanescentes da década passada. A banda chega em Anotherspot como um septeto, completo com os guitarristas Daniel Develly e Clínio Jr., além do tecladista André Saddy. Outro componente importante das sessões de Anotherspot foi o veterano engenheiro de som Chico Donghia.
Comunidade da Pelvs no Orkut:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=4840260
Página da banda no MySpace:
http://www.myspace.com/pelvsmusic
Mp3 da banda no site da Midsummer Madness (Clicar com o botão direito e escolher Salvar Link Como...)
texto de Bruno Notre Dame Lewicki adaptado livremente pelo mm (Midsummer Madness).
foto principal por Cadu Pilotto
foto azul Gustavo por Eugênio Vieira
Texto tirado do site da gravadora Midsummer Madness.
Clipes:PELVs - Backdoor
PELVs - Chica
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