Pra amanhecer brilhando mais forte...

Um espetáculo. Aquilo que Fernando Anitelli chamou cuidadosamente de "apresentação", evitando usar o termo "show", foi simplesmete um espetáculo. Foi mais uma experiência singular que essa trupe independente proporcionou aos raros que tiveram o privilégio de participar de tão sublime manifestação artística. Como disse uma das organizadoras do evento, em Ribeirão, ao anunciar a trupe: "aos raros que já se descobriram e aos que vão se descobrir nessa noite. Com vocês: O Teatro Mágico"

A magia do circo, a beleza do teatro, o encanto da poesia e a nobreza da música foram os elementos que o grupo de músicos e artistas, sob o comando do genial palhaço Fernando Anitelli, conseguiu fundir e dar origem ao espetáculo "Entrada para raros". Espetáculo que a além de belo é permeado por ideais de liberdade, paz e amor. Sempre exaltando a Arte Independente e a importância fundamental do público para que essa arte sobreviva.

Sem gravadora e com uma divulgação completamente no boca-a-boca, o TM conquistou milhares de seguidores. Seguidores fiéis da trupe que nasceu no mundo mágico de OZ... Osasco, e conquistou o Brasil com sua arte. E mesmo depois de todo esse furor em volta da trupe, ainda continuam vendendo CDs por R$5,00 na lojinha durante o espetáculo e disponibilzando todas as música em formato mp3 em no site da trupe. "Contra Burguês, Baixe mp3", segundo o próprio Fernando.

Antecedendo o espetáculo, o "Show" de Zeca Baleiro. Um dos maiores nomes da MPB moderna, foi apenas um coadjuvante diante da grandeza de uma trupe de palhaços que emocionou milhares de jovens que cantavam em uníssono todas as músicas. Participações mútuas foram pontos altos da noite. Fernando cantou "Mamãe Oxum" no show de Zeca. E um Baleiro um pouco tímido entrou a carater no Espetáculo do TM, mas não mostrou conhecer o repertório, limitou-se a alguns "Qual é" no refrão da canção "Comercial".

Como um espetáculo bem marcado do começo ao fim, Fernando comanda a trupe, mas não ofusca o talento dos outros artistas que participam maravilhosamente das encenações. Tudo feito para alegrar, para emocionar, e para encantar uma platéia que, como citou Anitelli, escolheu estar ali. Já se vê entre o público seguidores mais eufóricos de cara pintada e nariz de palhaço, mas é impressionante o número de fãs que essa trupe independente conquistou em tão pouco tempo. Multidões lotam as casas onde eles se apresentam. Muita gente acaba ficando de fora de alguns espetáculos.

A beleza dos efeitos visuais do show, as cores vivas e as encenações são um encanto a parte. A sutileza da bonequinha do tecido Gabriela Veiga, com movimentos que a aproximam do encanto de uma fada. As peripécias de Roberval com o peixinho de pelúcia são hilárias, mas também assustam enquanto interpreta a horrenda figura que abate o palhaço na música "O mérito e o monstro" e encantam enquanto se dependura no trapézio com uma harmonia incrível de movimentos. A bonequinha Lígia, graciosa entre a platéia distribuindos mensagens da trupe. Os excelentes músicos que executam o repertório maravilhosamente. Todos os elementos fazem do conjunto do espetáculo uma obra excepcional. Me orgulho de saber que tudo isso é feito de forma independente. Viva a Independência da Arte!

O espetáculo emociona a qualquer um que assista. Nos faz descobrir os palhaços que adormecem dentro de nós. As mensagens de paz, amor, consciência e amizade são muito claras e se tornam mais tocantes junto com toda a beleza visual do espetáculo. É impressionante a sinergia da trupe com o público. É lindo ver a entrega mútua da platéia e dos artistas. Ao final do apresentação, na música "O Anjo mais velho", é impossível não se comover com o refrão "Só enquanto eu respirar vou me lembrar de você". Os fãs começam a abraçar uns aos outros em um gesto lindo de amizade. Confesso, não resisti. Me juntei a meus amigos em um grande abraço. Era o prêmio por estar ali naquela noite. Nós escolhemos estar lá.