Resenha que escrevi para o Disco da Semana na Rádio UFSCar.
Recomendo aos leitores desta resenha que, antes de prosseguirem com a leitura, visitem o site onde Marcelo Camelo disponibilizou 10 das 14 faixas do seu primeiro disco-solo, intitulado "Sou", para download gratuito. Logo de início, no site, peço que reparem em uma foto de busto do compositor carioca. O olhar profundo parece perder-se em pensamentos solitários e conflitantes de uma mente incrível. A barba, já consagrada nos tempos de Los Hermanos, remete-nos ao amadurecimento desse cara estranho, que sabe tirar proveito dos conflitos existenciais do homem e criar versos geniais casados com sonoridades e melodias igualmente célebres. Essa foto talvez seja o resumo do conceito desse trabalho. Marcelo Camelo debuta em carreira solo mostrando a cara, mesmo sem ter a obrigação de provar nada pra ninguém, seja como violonista, cantor ou compositor.
O nome do disco, "Sou", pode nos levar a acreditar que é um disco solitário, um tanto egocêntrico. Mas virando a capa do disco lê-se "nós", inspirado em poema concreto de Rodrigo Linares, prova de que esse trabalho esteve cercado de importantes colaboradores. A começar pelo irmão Thiago Camelo, que escreveu o release do disco que está no site, um texto brilhante em que torna pública a participação do pai Ernesto Camelo na produção executiva do CD.
Nas parcerias musicais, além dos amigos da banda paulistana Hurtmold participando na gravação da maioria das faixas, o encontro mais inusitado é com a jovem prodígio Mallu Magalhães em "Janta" e com Dominguinhos na linda e já conhecida do público mais fiel "Liberdade". O Hurtmold também acompanhará Camelo na turnê que se inicia neste mês de setembro, com shows em teatros para públicos menores.
"Téo e a Gaivota", canção que apresentou ao público no final do ano passado em vídeo no seu Myspace em uma versão instrumental, tendo o barulho das ondas do mar como percussão, no álbum mantém a mesma harmonia praiana e ganha bela letra e melodia. (ver vídeo da nova versão)
O rapaz caseiro é ressaltado na marchinha "Copacabana", cantada em coro em homenagem ao bairro do Peixoto e seus velhinhos bons de papo. Além disso, há as referências regionais nas harmonias de "Vida Doce" e "Menina Bordada".
Sem querer esboçar nenhum tipo de resgate do Los Hermanos, "Mais Tarde" traz uma pegada mais rock que, segundo Thiago Camelo em sua resenha, "torna a resignação da canção reconfortante".
Com fortes referências pessoais, o disco traz um retrato do amadurecimento de Marcelo Camelo. Um trabalho que só lembra a antiga banda dos barbudos pelas belas melodias cantadas na voz de Camelo. Não que a intenção seja livrar-se do passado e do estigma da antiga banda, até porque a obra do Los Hermanos já ficou registrada nos anais da música brasileira e na cabeça da legião de fãs do grupo. Marcelo Camelo quis mostrar o que sabe fazer, sem fugir do seu passado e aproveitando referências pessoais e coletivas do presente. Quanto ao Futuro!? Deixa que o cara sabe o que tá fazendo.
Léo Castro
Um comentário:
bem analisado, e se não foi não é a gente que ouvindo vai conseguir entender...
Postar um comentário